quinta-feira, 3 de maio de 2007

O Muro

Um dia construíram um muro. Era alto, imponente, cinzento. No muro alto, nem um pequeno tijolo de sol - apenas a arrogância fria do cimento. As pessoas olhavam o muro alto e não imaginavam o que poderia estar do outro lado. É que o muro alto era também muito largo – tão largo que não se lhe conhecia o fim.

Na história do muro alto estavam inúmeros muros, de diferentes tamanhos e consistências, entremeando com arames farpados e vidros partidos. Para quem os olha sem saber o que está do outro lado, os muros altos parecem crescer todos os dias um pouco mais. De tanto crescerem, os pequenos muros tornaram-se apenas um - um imenso muro alto e consistente.

Um dia pintaram caras no muro. Seriam, talvez, caras do lado de lá… pois se há gente deste lado, do outro também deve haver. Será que, do lado de lá, também pintaram caras? Será que pintaram as caras do lado de cá? Estaremos, assim, a ver-nos uns aos outros nas imagens paradas cravadas no muro frio? Quem és tu, meu irmão, que me olhas sem rancor (mas com ironia)? Não, juro que não tenho culpa, não tenho nada a ver com esta parede monstruosa que me limita o horizonte. Terás tu algo a ver com o muro alto, ou, quem sabe, terás talvez algo a ver com as imensas fotos que estamparam no muro a sua própria vergonha?

Já nem me lembro se do outro lado corria um rio ou verdejava uma floresta… O mais certo é crescerem casas, como aqui, casas com tecto e 4 pequenos muros, todos com um lado de dentro e um lado de fora. E nós, estaremos do lado de dentro ou do lado de fora do muro alto? De que lado fica a prisão ou a liberdade? Estaremos livres ou, com maior probabilidade, apenas perdidos? Estaremos seguros ou, quem sabe, apenas presos? Ou será que a terra acaba com um enorme abismo do outro lado do muro alto…

Bring down the Wall !

http://www.euronews.net/index.php?page=info&article=418352&lng=6
Imagem: anúncio da TBWA/Paris para a Amnistia Internacional

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